segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Dorina Nowill, uma parceira da diversidade

Um blog sobre diversidade não pode deixar de prestar aqui sua homenagem a Dorina Nowill. Já falei sobre ela em outros momentos, mas hoje é para lamentar seu falecimento.

Tive a oportunidade de coordenar uma mesa num evento na Vivo e fazer as devidas homenagens a ela, que estava humildemente na platéia acompanhando tudo com atenção.

Se já temos contribuições melhores do que a dela à causa, como alguns apontam, sua Fundação está aí para continuar seguindo a lição de inovação, ousadia e visão de futuro que dona Dorina Nowill nos deixou.

Ela certamente merece estar entre os heróis da pátria por tudo que fez, não apenas pela pessoa com deficiência visual, mas pela sociedade brasileira. Todos ganhamos.

Segue o link para o blog de Joana Belarmino. O noticiário tem muitas informações sobre Dorina, mas Joana fez uma mensagem muito terna que vale a pena conhecer. Obrigado Dorina Nowill! Barrados no Braille - UOL Blog

domingo, 29 de agosto de 2010

Revista Têtu - Discriminação salarial e homossexualidade

Foi enviada por Beto de Jesus a matéria traduzida da Revista Têtu:

Par Paul Parant jeudi 26 août 2010, à 11h21
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Plus de: travail, discrimination, Homoboulot

«Os homos são sempre menos iguais que os outros!» denuncia a federação das associações LGBTs de grandes empresas, que nota que os homos são antes de tudo discriminados na evolução de suas carreiras profissionais.

O assunto já fez correr muita tinta. Nós sabemos, segundo um estudo recentemente publicado pela Universidade de Evry (ler nosso artigo), que aos gays no trabalho caberia salários inferiores de 6,5% em relação aos seus colegas heteros (5,5% de menos no público). Quanto às lésbicas, a elas caberiam em média 2% a mais do que as outras mulheres, mas suas remunerações são ainda bem longe daquelas dos homens. O coletivo Homoboulot* se alarma com esses resultados, em um comunicado que ele acaba de publicar.

Homoboulot coloca antes de tudo um aspecto importante da pesquisa: mais ainda do que o salário, «é a carreira que é impactada pela discriminação aos homos, pois que o diferencial de salário aparece e se reforça além dos 45 anos, quando a revelação de sua homossexualidade não há mais como não fazer». Maneira de dizer que mais do que se opor ao aumento de um gay, as direções de empresas colocam logo um freio a sua promoção interna.

Telhado de vidro

«As lésbicas e os gays não estão ainda reivindicando um salário igual, mas reclamam sempre o respeito e a igualdade de tratamento», nota Philippe Chauliaguet, o porta-voz do Homoboulot. «Dois homos em três não podem responder francamente quando seus colegas lhes perguntam se eles são casados, e muitos não ousam declarar a assinatura de um pacs ao seus serviços de recursos humanos de medo que «isso se saiba». Entretanto, a vinda à luz de uma diferença de salário entre os gays e seus colegas heterossexuais - homens, não faz mais do que ilustrar o «telhado de vidro» que toca aos gays da mesma maneira que às mulheres, e isso nós o explicamos desde há muitos anos.

Enquanto uma pesquisa de Christophe Falcoz para a Halde (ler uma síntese em PDF) demonstrava desde 2008 a autocensura de 66% dos homossexuais no trabalho, «é uma constatação de fato muito demonstrativa para aqueles que aspiram a essa liberdade de poder viver abertamente» conclui Homoboulot, em se inquietando pelos assalariados que não ainda fizeram seus coming out. O coletivo reclama enfim «uma verdadeira implicação do Estado e dos atores profissionais na diversidade», e avança algumas soluções: favorecer as ações contra todas as discriminações e preconceitos, integrar a luta contra as «LGBTfobias» na formação dos assalariados e melhor comunicar sobre os benefícios da igualdade.

Foto: Fotolia/DR. * Homoboulot agrupa as associações LGBTs Algo (ministério dos Negócios estrangeiros e europeus), Comin-G (ministérios econômicos e financeiros), Gare! (SNCF), Homobus (RATP), Homosfère (SFR), Mobilsnoo (France Telecom-Orange). Encontre no número de setembro de TÊTU, um dossiê de TÊTU NEWS: Que fazer no trabalho: armário ou coming out?

domingo, 15 de agosto de 2010

Valor Econômico, 06 de agosto de 2010: Faltam gestores para o Terceiro Setor

Interjornal reproduziu matéria que saiu no Valor Econômico de 06 de agosto de 2010 sobre profissionais para o terceiro setor. Dei a entrevista ao jornal Valor falando do curso que coordeno na FGV - Gestão para Organizações do Terceiro Setor. Leia a matéria:

Faltam gestores para atuar em empresas do terceiro setor

São poucos os candidatos preparados para assumir os cargos de liderança

Jacílio Saraiva

Organizações não governamentais, fundações e institutos ligados à grandes empresas estão procurando gestores que mostrem resultados tão efetivos no dia a dia quanto os executivos da iniciativa privada. A prioridade, além de abraçar a causa social, é que o profissional saiba captar e gerir recursos para projetos educacionais, ambientais, esportivos e ligados à arte e cultura. Na disputa por um cargo, ganha a vaga quem mostrar familiaridade com a missão do grupo e habilidade para trabalhar em equipe. Instituições como a Fundação Gol de Letra, SOS Mata Atlântica e Itaú Social dão prioridade a candidatos com currículos multidisciplinares, com formação em administração, psicologia, pedagogia, engenharia, direito, assistência social ou educação física.

Segundo Marcos Kisil, presidente do Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (Idis), mudanças importantes estão ocorrendo no segmento atualmente - como o crescimento do mercado de trabalho e mais opções de qualificação. "Hoje, o número de pessoas ocupadas em atividades ligadas ao terceiro setor é de três milhões de profissionais." Em 1995, esse contingente reunia 1,5 milhão de empregados, segundo pesquisa realizada pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, e o Instituto Superior de Ensinos Religiosos (Iser). Para os especialistas, as organizações do terceiro setor no Brasil começaram se profissionalizar a partir do final da década de 1980, copiando modelos internacionais. De acordo com o censo sobre investimento social privado no Brasil feito pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), a previsão em 2010 é que o setor invista mais de R$ 2 bilhões no país, um crescimento de 6,2% sobre 2009.

O levantamento, realizado em parceria com o Ibope Inteligência-Instituto Paulo Montenegro e Itaú Cultural, indica que a educação permanece como o maior destino dos recursos - antes de cultura e arte, formação para o trabalho, esportes e comunicação. Os associados do Gife, que reúne entidades que respondem por cerca de 20% do total investido na área social pelo setor privado, têm projetos em todo o país, mas a distribuição do trabalho está mais concentrada no Sudeste e no Sul.

"Outro ponto a destacar é o crescimento da quantidade de cursos voltados para a capacitação e especialização de profissionais da área", afirma Kisil, do Idis. Para ele, mesmo com mais opções de qualificação, há um número limitado de candidatos preparados para assumir posições de liderança. "Ainda estamos vivendo o domínio de uma geração pioneira nesses cargos. O crescimento do mercado, porém, acelera a promoção de pessoas mais jovens."

Na Fundação Roberto Marinho, com 300 funcionários, a meta é contratar de 5% a 10% do efetivo atual, até 2012. "A maior parte das vagas é para candidatos com formação superior e experiência ou certificação em project management", ressalta Nelson Savioli, superintendente executivo da fundação criada há 33 anos, com projetos de educação, cultura, televisão educativa, meio ambiente e patrimônio. Savioli trabalha na Fundação Roberto Marinho desde 2001. Antes, foi diretor de recursos humanos da Unilever Brasil. Bacharel em direito, fez cursos de aperfeiçoamento no país e no exterior. Para ele, o trabalho na área está mais difundido e compete, de igual para igual, com o de profissionais de empresas privadas.

"As organizações tiveram de se profissionalizar para atrair e manter talentos que pudessem gerir bem os recursos que lhe são atribuídos. Já há corporações no Brasil que contratam empregados de institutos que se destacam em projetos sociais", afirma. "Na Fundação Roberto Marinho, um gerente lotado no Rio de Janeiro foi 'tirado' por uma companhia paulista que lhe ofereceu um cargo de diretor."

Para Sóstenes Brasileiro, diretor da Gol de Letra, os profissionais que se dão bem no segmento têm como marca principal a competência na área de formação. "É preciso ter uma boa dose de identificação com a causa social e gosto por trabalhar com comunidades populares." Com dez anos de atividades, a Gol de Letra atua em São Paulo e no Rio de Janeiro e foi criada pelos ex-jogadores de futebol Raí e Leonardo. Desenvolve programas de educação integral para cerca de 1,2 mil crianças e adolescentes.

Segundo o executivo, é cada vez mais comum aparecerem nos processos seletivos - principalmente para postos qualificados - profissionais com especialização em gestão no terceiro setor, empreendedorismo e responsabilidade social. Com 50 funcionários, a Gol de Letra está à procura de um educador social com formação superior na área de humanas. "O candidato precisa ter liderança, habilidade na mediação de conflitos e na articulação com os jovens."

A diretora de gestão do conhecimento da Fundação SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota, acaba de concluir um processo de seleção para uma vaga de coordenador de projetos. "A contratação depende do estabelecimento de parcerias e patrocínios para a realização dos trabalhos. Pode ser feita internamente, via site da fundação ou em portais de empregos."

Criada em 1986, a SOS Mata Atlântica promove a conservação da diversidade biológica e cultural do bioma e de outros ecossistemas. Tem 53 funcionários entre biólogos, engenheiros florestais, geógrafos, jornalistas, relações públicas, administradores, contadores, analistas de sistemas e bibliotecários. "O profissional precisa ter dinamismo, proximidade com a causa da organização e saber trabalhar em equipe."

Para Valéria Riccomini, diretora da Fundação Itaú Social, criada em 2000 para disseminar novas metodologias para políticas públicas educacionais, o gestor deve conseguir mobilizar pessoas e garantir os resultados do investimento social. "No caso de profissionais seniores, a experiência anterior é importante." A equipe da Fundação Itaú Social, com 18 pessoas, é formada por funcionários do banco. Recentemente, o quadro ganhou o reforço de cinco especialistas em comunicação, orçamento e projetos sociais. Quando a Fundação Itaú Social precisa preencher uma vaga, a primeira opção é realizar seleções no próprio banco. "Em segundo lugar, recorremos às redes de relacionamento e indicações de parceiros. Também podemos chamar uma empresa de recrutamento para ajudar na escolha."

Para Reinaldo Bulgarelli, coordenador da área de sustentabilidade, meio ambiente e terceiro setor do Programa de Educação Continuada (PEC) da Fundação Getúlio Vargas, saem na frente dessa corrida candidatos engajados com a causa social, bom entendimento da realidade social brasileira e internacional, postura empreendedora e conhecimentos gerenciais. "O trabalho envolve gestão de pessoas, de projetos, recursos e meios de captação", afirma.

Foram essas características que ajudaram a advogada Geórgia Pessoa a ocupar a gerência de programas para a Amazônia na Fundação Gordon e Betty Moore, em São Francisco, nos Estados Unidos. Especializada em gestão ambiental com MBA em direito da economia e da empresa, Geórgia foi coordenadora jurídica do WWF em Brasília, antes de assumir o cargo em 2007. "Hoje, preciso desenvolver e implementar estratégias para o programa por meio de doações para outras organizações conservacionistas nos países da bacia amazônica." Para a especialista, a formação acadêmica é importante mas, como o como o segmento ainda é novo, muitas das lições acabam sendo aprendidas na prática, junto ao setor privado ou ao governo.


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Primeira feira de negócios LGBT do Mercosul - O Globo, 31 de julho de 2010

Dei entrevista ao jornalista Gilberto Scofield Jr falando sobre a Câmara Brasileira de Negócios GLS, o temor das empresas em associar a marca à comunidade LGBT e a primeira feira de negócios a ser realizada em 2011, em São Paulo. Segue matéria que foi publicada no O Globo.

O Globo, 31 de julho de 2010, por Gilberto Scofield Jr.
Em julho de 2011, a cidade de São Paulo vai sediar o primeiro Expo Business LGBT do Mercosul, uma feira de negócios que pretende reunir cerca de 30 empresas com atividades direta ou indiretamente voltadas para o público de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) da região. Empresas de turismo, hotelaria, gastronomia, aluguel de carros e lazer de um modo geral são as mais interessadas, mas o encontro estará aberto para qualquer tipo de empresa ou profissional liberal que queira aproveitar a ocasião para conversar sobre as oportunidades geradas por um público estimado em 18 milhões de pessoas no Brasil e com um poder de consumo que muitos calculam ultrapassar os R$ 150 bilhões.


Trata-se do primeiro grande evento da Câmara de Comércio GLS do Brasil, cujo estatuto foi aprovado há um ano e as atividades começaram a se estruturar de fato recentemente. A Câmara, que hoje possui 40 associados - a maioria pequenos negócios voltados para a comunidade - e três grandes empresas como observadores - os bancos Itaú e Santander e a construtora Tecnisa -, tem o apoio institucional da Coordenadoria de Assuntos da Diversidade Sexual da prefeitura de São Paulo e se reúne mensalmente para estudar ações que fortaleçam os negócios do grupo.

O slogan é curioso: "Vamos tirar o mercado do armário!".

“Enquanto no exterior as empresas possuem ações específicas voltadas ao público LGBT, a exemplo da Fiat, que bancou a passeata gay em Madri, impressiona que no Brasil elas ajam como se a comunidade gay não existisse. É preconceito não apenas nas empresas, mas nas agências de publicidade”, diz Douglas Drumond, presidente da Câmara e proprietário do Clube 269 em São Paulo, e do hotel Ouro Minas, em Belo Horizonte.

“Há muito preconceito, conservadorismo e pouca objetividade nas grandes empresas”, faz coro o coordenador da área de Sustentabilidade e Gestão Ambiental da FGV e professor da Unicamp, Reinaldo Bulgarelli, cuja consultoria Txai é especializada em políticas de diversidade e sustentabilidade no mundo corporativo e ajudou a montar a Câmara.

Empresas ainda temem associar marcas a gays

O coordenador da área de Sustentabilidade e Gestão Ambiental da Fundação Getulio Vargas (FGV) e professor da Unicamp, Reinaldo Bulgarelli, afirma que o preconceito existente nas empresas com relação à associação de suas marcas e atividades a grupos de gays e lésbicas varia de país para país.

Ele lembra ainda que não há provas de que uma marca seja contaminada ao ser associada a grupos homossexuais. "Muitas multinacionais que fazem isso lá fora não reproduzem as ações no Brasil", afirma Bulgarelli.

Não é o caso do banco espanhol Santander, um dos observadores presentes às reuniões da Câmara de Comércio GLS e uma das empresas mais ativas em políticas orientadas a esse público, sejam funcionários ou clientes. Em 2005, por exemplo, o Santander ampliou para casais do mesmo sexo os benefícios de previdência privada, assistência médica e odontológica dados aos funcionários heterossexuais.

Em 2006, o banco criou a primeira carteira de crédito imobiliário para casais de mesmo sexo que querem comprar imóveis. "Participamos da Câmara porque temos uma política interna de valorização da diversidade e atendemos a clientes que são gays e lésbicas. Então é natural que nos associemos a instituições que possam nos abastecer de informações relativas a esses públicos", diz Maria Cristina Carvalho, superintendenteexecutiva de Recursos Humanos do Santander.

Estabelecimentos gays sofrem pressão

Dispostos a fazer o que Douglas Drumond, presidente da Câmara de Comércio GLS do Brasil chama de "trabalho de casa", a câmara encomendou ao Ibope o orçamento de uma pesquisa para levantar as principais estatísticas do chamado mercado de consumo gay, cujas reais dimensões ainda se baseiam mais em estimativas informais que em números confiáveis. O projeto custará R$ 220 mil, recursos que Drumond espera arrecadar de associados e patrocinadores.

"Costumo dizer às empresas que apoiar este levantamento é um tipo de compensação por faturarem com uma comunidade que costuma consumir muito", diz Drumond. "Mas o problema básico continua sendo a garantia de vida dos negócios".

Explique-se: há cerca de um ano, as boates gays paulistas Cantho e A Lôca receberam visitas da Polícia Civil numa ação que, segundo a Secretaria Estadual de Justiça, não passou de vigilância rotineira. Mas, para Drumond, foi uma pressão velada para inibir os negócios, pressão que geralmente parte de associações de moradores que não gostam do público GLS na vizinhança.

Essa ameaça, diz ele, é um pesadelo à sobrevivência dos negócios, mas também a força que empurrou os empresários à aglutinação num grupo que possa responder por todos.
 
- Veja a matéria diretamente no O Globo: http://oglobo.globo.com/economia/mat/2010/07/31/sao-paulo-vai-sediar-primeira-feira-de-negocios-do-mercosul-voltada-para-publico-gay-estimado-em-18-milhoes-no-brasil-917291102.asp

25 anos de Criança Esperança

Reinaldo Bulgarelli, 18 de agosto de 2010

O show ontem foi bacana. 25 anos do Criança Esperança e eu quero aqui também comemorar esse tempo de mobilização a favor dos direitos da criança e da juventude. Interagi de muitas maneiras com o Programa, mas gostaria de lembrar aqui o início e o contexto de seu surgimento.

Eu fui "educador de rua" ou, como mais tarde Dom Luciano Mendes de Almeida nos batizou, "Educador Social de Rua". Desde 1978 eu conhecia esse universo da população em situação de rua e em 1985 algumas organizações que atuavam com crianças e adolescentes fundaram o Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua. Fui um dos fundadores e membro da coordenação nacional. Fui também responsável pela elaboração do projeto de Centros de Formação, que contou com a contribuição de Paulo Freire.

Nesta atuação como educador social de rua, sempre procurei atuar com dois propósitos fundamentais, dentro do contexto de participação ativa na redemocratização do país: contribuir para que as crianças e adolescentes em situação de rua encontrassem soluções melhores para sua realidade já a partir daquele lugar em que estavam, e contribuir na construção de políticas públicas, leis, metodologias, pedagogias que fossem coerentes com uma sociedade democrática e uma nova visão sobre os direitos humanos da criança e do adolescente. Era como ter um olho na rua e outro na sociedade, que precisava ser mobilizada para novos entendimentos, posturas e práticas.

Foi uma época muito importante para o país. Estávamos saindo do regime autoritário e em breve teríamos a desejada nova Constituição, com possibilidade de nela revermos a relação entre o mudo adulto e o mundo infantil.

O “Criança Esperança” surgiu em 1986 exatamente neste momento de democratização do país, de mobilização da sociedade para a geração, promoção e defesa dos direitos humanos de crianças e adolescentes, que resultou no artigo 227 da Constituição (1988) e no Estatuto da Criança e do Adolescente (1990). Era preciso sensibilizar a população brasileira e colocá-la em contato com novos valores para que saíssemos da fase autoritária, assistencial-repressiva, para uma fase de efetivo respeito ao cidadão criança e adolescente, pessoas em condição peculiar de desenvolvimento.

O contato do Movimento com o UNICEF era intenso. Éramos os interlocutores que representavam a sociedade civil organizada. Salvador Herencia, responsável pela área de comunicação do UNICEF, nos procurou com a ideia da parceria com a Globo para realizar um programa que mobilizasse a sociedade para a doação de recursos. Todos nós víamos nesta proposta uma oportunidade para também sensibilizar a população do país para esta nova visão sobre a infância e adolescência. Didi era a figura central desta proposta e a Globo se colocou de corpo e alma no projeto.

Mas nem tudo foi simples. Éramos lideranças do movimento popular e tínhamos grande desconfiança da Globo. Ela representava para nós uma organização comprometida com o regime autoritário. Seria capaz de defender os direitos da criança? Apesar das resistências internas, Bené, coordenador do Movimento e a pessoa que nos representou no primeiro show, firmou a parceria e lá estávamos todos inaugurando uma nova fase no país, na qual fomos aprendendo a estabelecer alianças e parcerias para garantir bons resultados no desenvolvimento socioeconômico, político e cultural.

Tudo foi elaborado em conjunto. O nível de precariedade e mesmo amadorismo do primeiro programa que foi ao ar era impressionante. Pensamos, por exemplo, em fazer arrecadação em ruas movimentadas de São Paulo, já que não existia ainda o sistema de arrecadação de recursos por telefone, internet, lotéricas e outras modernidades que foram sendo implementadas ao longo destes anos. Enfim, as coisas não nascem prontas e tudo foi muito bonito nesta fase de implantação de uma proposta que hoje é consagrada.

A imagem que me vem do primeiro Criança Esperança é a do Didi, Roberto Carlos, o pessoal do UNICEF e o Bené, com o elenco da Globo, cantando a música de encerramento do show. É uma imagem das novas articulações que se consagraram nestas décadas e a imagem da emoção. No começo, eu nem entendia direito porque tanta emoção, mas ver nossos artistas e uma emissora tão importante a serviço da infância, falando de temas que pareciam dar nó apenas na garganta de quem os vivenciava, explica tudo. É sempre uma emoção ver nossa gente unida, saindo do seu lugar, fazendo algo mais, superando divergências para trabalhar a favor de uma causa nobre.

Aquele início do Criança Esperança foi um momento único e que simbolicamente representava uma nova fase para o Brasil. Precisávamos lutar por nossas posições, mas a superação dos problemas e a conquista de novos patamares, como foi se confirmando ao longo da história, aconteceriam com articulações, união de esforços e muita parceria entre todos os setores da sociedade.

Nós, que atuamos na promoção e defesa dos direitos humanos da criança e do adolescente, devemos muito ao Criança Esperança por vários motivos.

Ele ajudou a sensibilizar a sociedade brasileira para a visão que estávamos construindo e que se consolidou no artigo 227 da Constituição de 88, assim como no Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990. Os parlamentares e movimento social em geral compreenderam melhor o que estávamos propondo. Isso facilitou articulações, criou o ambiente favorável que precisávamos para sair do anonimato ou da mensagem em pequenos espaços para a mensagem que atingia o grande público.

Ele efetivamente é um programa de esperança. Ao longo dos anos, o Criança Esperança foi apresentando propostas inovadoras e passando mensagens importantes, de que era possível fazer algo diferente do modelo autoritário, assistencial-repressivo. Havia na época de criação do programa, um conjunto robusto de práticas inovadoras na atenção a crianças e adolescentes. O Criança Esperança foi espaço de divulgação destas propostas e facilitou que fossem assimiladas nas políticas públicas, na maneira nova de entender e atender esse público.

A mensagem do Criança Esperança tem sido ainda mais importante ao trazer relatos de vidas transformadas, de pessoas que se reinventaram, que demonstraram o potencial que tinham e que uma proposta pedagógica adequada era capaz de revelar. É uma oportunidade rara de enfrentar o conservadorismo que defende que as pessoas não mudam, que a pobreza é um destino, que "pau que nasce torno, morre torto", entre outras crenças que afrontam quem trabalha com crianças e adolescentes nas situações das mais difíceis. Há histórias lindas de transformação por meio de um gesto solidário, uma palavra, uma proposta diferente, um projeto que atenda necessidades e, mais que isso, respeite direitos, que ofereça perspectivas, a elaboração de um novo projeto de vida, enfim, que ofereça esperança.

Eu aprendi e aprendo muito com o Criança Esperança. Ele representa nossa capacidade de transformação. Nós, do Movimento, nos transformamos. A Globo demonstrou sua imensa capacidade de transformação, sua postura plural e criativa para estar presente e ser significativa no novo momento do país nesta área dos direitos humanos da criança e do adolescente. Os programas sociais, governamentais e não governamentais foram se transformando nesse processo de mobilização, exposição de novas práticas e criação de novas referências. As empresas privadas e públicas foram percebendo que também podiam fazer algo mais pela sociedade e rumaram na direção de práticas socialmente responsáveis com foco muito forte no investimento social privado voltado à educação de crianças e adolescentes.

Enfim, todos nos transformamos, não apenas as crianças e adolescentes beneficiadas pelo Criança Esperança. Não é verdadeiro o número de 4 milhões de crianças beneficiadas com as doações. Fizemos muito mais e por muito mais gente, mobilizando o país para agir com esperança em cada história de cada criança, mas na história maior que estamos construindo juntos.

Hoje temos novos desafios pela frente, mas esta história deve ficar em nossa lembrança como referência de um tempo no qual encontramos pontos em comum, mesmo com tantas diferenças e até divergências. Um país melhor para todos precisa dessa esperança. Parabéns a todos nós por termos o Criança Esperança.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Homenagem à Argentina: aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Não sei a origem, mas gostei: 10 motivos para proibir o matrimônio gay

10 razones para PROHIBIR EL MATRIMONIO GAY


1) Ser gay no es natural. Como hijos de Dios y verdaderos argentinos nosotros rechazamos todo lo que no es natural, como los celulares y el aire acondicionado.

2) La gente gay promueve y hace que otra gente se haga gay, así como juntarte con hombres altos te hace alto también.

3) Legalizar el matrimonio gay va a abrir las puertas para otros tipos de comportamientos perversos y descabellados: algunos van a querer casarse con una silla u otros con sus mascotas, porque los animales son sujetos de derecho y pueden firmar un contrato nupcial.

4) El matrimonio heterosexual ha existido siempre y no ha cambiado nunca: las mujeres todavía son propiedad, los negros todavía no pueden casarse con los blancos y el divorcio todavía es ilegal.

5) Si se legaliza el matrimonio gay, el matrimonio hétero va a perder su significado. La santidad del casamiento de 55 horas de Britney Spears sólo-por-diversión desaparecerá.

6) El casamiento hétero es válido porque produce hijos. Las parejas gay, los infértiles y los adultos mayores no deberían casarse porque los orfanatos todavía no están llenos y el mundo necesita más niños.

7) Obviamente, los padres gay criarán hijos gay, así como todos los padres hétero crían hijos hétero.

8) El matrimonio gay no es apoyado por la religión. En una teocracia como la nuestra, los valores de UNA SOLA religión son impuestos en el país entero. Es por eso que en Argentina no existe la libertad de culto y sólo existe la religión católica.

9) Un niño nunca triunfará en la vida si no tiene un modelo femenino y uno masculino a seguir en su hogar. Es por eso que nosotros como sociedad prohibimos expresamente a los padres solteros criar a sus hijos.

10) El matrimonio gay cambiará las bases de la sociedad; NUNCA vamos a poder adaptarnos a las nuevas normas sociales. Así como nunca pudimos adaptarnos a los autos, a internet, a las nuevas economías o a la abolición de la esclavitud.