sábado, 27 de novembro de 2010

Morre Cláudia Wonder - Um brilho que veio para ficar

Cláudia Wonder, de quem comentei aqui no blog o documentário "Meu Amigo Cláudia", faleceu ontem. Entre tantas lembranças da artista, fico com nossas conversas sobre mercado de trabalho para travestis e transexuais.

Tinhamos na agenda, além do lançamento do filme no circuito comercial, a realização de um evento com empresas para falar de ações afirmativas que garantissem eliminação de barreiras, promoção de equidade e respeito a travestis e transexuais. O tema da identidade de gênero não chegou ainda nem perto da responsabilidade social empresarial, mas é preciso que alguém trabalhe nesta direção. Ela estava animada com essa possibilidade.

Cláudia foi uma artista e tanto. Nem preciso falar nisso porque ontem e hoje há muita gente rendendo homenagens para essa vida cheia de brilho, com muito sucesso e reconhecimentos. Ainda é pouco porque ela foi importante demais para a cena artística brasileira e muitas outras homenagens virão. Seu brilho veio para ficar. Emprestou seu talento para a causa LGBT e fez a diferença, sempre com ações práticas, preocupada com a militância e com o atendimento direto a travestis, a criação de alternativas para quem não quer ter um destino traçado pela sua identidade de gênero.

Nossa conversa parou no ponto em que levantaríamos nomes de várias e vários profissionais travestis e transexuais que trabalham em diversos ramos de atividade, incluindo profissionais liberais, secretárias, sociólogos, serviço público, bancos, varejo, enfim, não apenas na noite e no mundo artístico, palco onde ainda é preciso garantir também mais avanços e muito mais respeito. Convidaríamos essas pessoas para darem seu depoimento sobre o que realizaram e sua visão sobre o mercado de trabalho. Tudo isso para demonstrar que há uma oferta de profissionais trans no mercado e que as grandes empresas poderiam contribuir aos dar visibilidade ao tema, à causa, reconhecer o que já está presente no seu cotiano e ampliar muito, muito mais essas possibilidades.

Nosso diálogo terminou ontem, mas nosso sonho irá adiante, mesmo porque não estamos sozinhos e tudo que faz sentido prospera, mais cedo ou mais tarde, mas prospera, vai adiante com muito mais gente interessada em garantir a TODOS e TODAS um país justo.

Cláudia, minhas homenagens, meu compromisso de ver nossos sonhos irem adiante e meus agradecimentos por tudo que fez pela sociedade brasileira. Seu velório na Secretaria de Justiça do Estado de São Paulo demonstra esse reconhecimento de que você ajudou o Brasil a ser melhor do que era com tudo que fez e por tudo que foi.

Os jovens que hoje expressam sua identidade de variadas maneiras, saibam que muito do que foi conquistado se deve à Cláudia e que ela pode ser fonte de inspiração para todas as demais conquistas que ainda devemos buscar. Ainda não é fácil para uma mulher ou para um homem assumir uma identidade de gênero diferente da que a biologia lhe conferiu no nascimento, mas pessoas como a Cláudia fizeram história ao brilhar na cena artística sem nunca deixar de olhar por toda a sua comunidade e por um país sedento de democracia para TODOS. Sempre me lembro de pessoas como a Cláudia quando em minhas palestras eu repito a pergunta de outra Cláudia, a Werneck: Quem cabe no seu todos?

Enfim, um brilho que veio para ficar se a gente se lembrar dessa luz em tudo que somos e fazemos.

Veja uma das notícias que saiu na grande imprensa sobre Cláudia Wonder, nossa querida amiga Cláudia. G1 - Multiartista Claudia Wonder morre aos 55 anos, em São Paulo - notícias em Pop & Arte

sábado, 20 de novembro de 2010

20 de novembro de 2010 - Dia Nacional da Consciência Negra

Dia da Consciência negra é um bom motivo para voltar aos dados divulgados pela pesquisa do Instituto Ethos e o IBOPE sobre o Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas do Brasil e Suas Ações Afirmativas, divulgada no último dia 11 e postada aqui no blog Diversos Somos Todos.

A pesquisa de 2010 revelou que há 5,3% de pessoas que se autodeclararam negras em cargos executivos. Na pesquisa de 2007, eram 3,5%. Quando a pesquisa teve início, em 2001, eram 2,6%. Melhorou, mas há muitas grandes empresas desprezando um potencial imenso presente no país.

Há empresas que reclamam do apagão educacional, do apagão de "mão de obra", mas não ainda têm dificuldade de se livrar do racismo entre seus profissionais e o racismo institucionalizado em seus processos de gestão. Apagão de "mão de obra", como disse uma colunista dia desses no O Globo, já diz muito do que se espera dos profissionais: uma mão. E o resto? Empresas que valorizam a diversidade querem gente inteira e não apenas a mão delas. Os termos atrapalham.

Depois de 10 anos de cotas para negros nas melhores universidades, além do ProUni (Programa Universidade para Todos), há uma oferta significativa de profissionais com excelente formação, como atestam as pesquisas. Os cotistas tiveram desempenho melhor que os não cotistas. Goste ou não de cotas, não é possível negar essa oferta, mas ainda se usa como desculpa que não há negros com qualificação para estas 500 empresas. Como assim? Todos os profissionais devem ter curso universitário, incluindo os cargos na base da pirâmide? Evidente que não. Mas há apenas 31,1% de negros mesmo na base das grandes empresas, o que se chamou de quadro funcional na pesquisa do Ethos e IBOPE.

Apertando um pouco mais, há profissionais das empresas que justificam a ausência de negros dizendo que no Brasil não há negros. Como assim? E uma série de desculpas são dadas para se fugir da responsabilidade. Bem verdade que muitas vezes esse discurso que denuncia o racismo no mercado de trabalho deveria gerar responsabilidade e não culpa. Não quero dizer que não haja racistas que estão explicitamente boicando a empresa na qual trabalham e as afastando de talentos negros. Mas, quero dizer que o importante é gerar responsabilidade, movimento em busca de soluções efetivas que aproximem as grandes empresas brasileiras da diversidade, da equidade, da justiça na distribuição de oportunidades. Oportunidades, cabe lembrar, aos empregados e aos empregadores.

Por exemplo, se há uma vaga para a qual concorrem 10 candidatos negros e 90 não negros, qual a tendência se não for tomada nenhuma medida a favor da diversidade? É preciso realizar uma ação afirmativa que garanta visibilidade e equidade aos candidatos negros. Não se trata de ação social, caridade, flexibilidade porque pode ter gente muito mais qualificada entre os 10 candidatos negros, mas a tendência é que a pressa no preenchimento das vagas se contente com os melhores que apareceram na multidão. Ação afirmativa é prática de gestão, de gente que efetivamente faz gestão e não apenas abre as vagas e assiste o que acontece. O mesmo vale para as mulheres e outras chamadas minorias.

Se além da desproporção na oferta de candidatos, ainda houver o filtro do racismo, a coisa piora muito. Para grande parte dos altos executivos, donos ou presidentes de empresas com os quais converso, o racismo é obminável e a diversidade é desejável, mas parece que muitos também não percebem que é preciso gestão para se combater o racismo e para se garantir diversidade.

Dia da Consciência Negra não é dia dos negros, como muitos dizem, mas dia de combater o racismo, de refletir sobre a qualidade das relações raciais e isso envolve negros e brancos. Feliz dia 20 de novembro!

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Instituto Ethos e Ibope lançam pesquisa sobre o perfil das 500 maiores empresas do Brasil

Hoje, 11 de novembro de 2010, o Instituto Ethos e o IBOPE lançaram a pesquisa sobre o Perfil Social, Racial e de Gênero das 500 Maiores Empresas e suas Ações Afirmativas. Dados novos! Ficamos entre a felicidade de ver alguns números melhorarem e a tristeza de ver que tudo é muito lento.

Segundo cálculos rápidos durante o evento, as mulheres alcançarão os homens em cargos executivos daqui a 35 anos, mantido esse ritmo percebido nas pesquisas de 2001 a 2010 (uma década!).

Mas acredito que o cálculo não considerou que as mulheres são marioria na sociedade brasileira, que apresentam mais anos de escolaridade que os homens e que em breve poderão ser maioria na população economicamente ativa.

A sua filha está estudando? Você e ela estão inventindo numa educação da mais alta qualidade? Diga a ela que poderá atingir uma posição compatível com seu esforço em 35 anos. Alguém está disposto a esperar? É justo? Não é o mérito que deveria imperar, segundo discurso reinante?

Em relação aos negros (homens), mantido esse ritmo, são mais de 150 anos para se chegar às posições dos não negros em cargos executivos. As mulheres negras terão que esperar muito mais. Como dizer aos jovens negros que estão também estudando nas melhores faculdades do país que todo esse investimento e esforço resultará numa espera de mais de um século? Não é o mérito e o esforço individual que deveria reger as decisões no mundo empresarial? Ou será que há filtros que falam mais alto que uma gestão para o sucesso da empresa?

Os dados da pesquisa do Instituto Ethos têm nome: racismo, machismo, discriminação da pessoa com deficiência (o que tenho chamado de davincismo), homofobia e por aí vai.

O mérito, a capacidade para ocupar essas posições, o preparo ou a experiência parecem estar em baixa. Não parecem ser importante. O importante é ser Brad Pitti: homem, branco, casado, sem deficiência, adulto... Eu digo que são as "vagas desde que...". Muitas empresas dizem que querem os melhores profissionais, desde que não sejam negros, mulheres, homossexuais, com deficiência, com menos de 25 anos, com mais de 35 anos...

É para isso que existe uma ferramenta de promoção de equidade, ou seja, de justiça, que se chama ação afirmativa. Elas têm a ver com o ritmo com que se quer mudar uma situação injusta. Podemos não fazer nada, apenas esperar que o tempo por si só trate de ampliar a consciência das pessoas. Não é possível que alguém defenda isso, mas podem ser as pessoas que hoje ocupam quase sozinhas as melhores posições do mercado de trabalho.

Podemos agir, estabelecer metas, criar programas de mentoring focado em mulheres, negros, pessoas com deficiência, entre outras ações afirmativas que ajudem a acelerar esses resultados.

Fiz a proposta no evento de publicarmos um manual sobre ações afirmativas para empresas, ajudando a conhecer o conceito, as formas de aplicá-lo na gestão empresarial e as experiências hoje em andamento no meio empresarial. Ações afirmativas não se resumem a cotas, mas compreendem um conjunto amplo de iniciativas baseadadas na necessidade da organização de incluir outras perspectivas na tomada decisões, na gestão dos negócios, no planejamento em um mundo em acelerado e profundo processo de mudança. A mudança mudou! Ela é mais rápida e profunda que antigamente. Quem poderá dar conta desse desafio? Apenas o Brad Pitti?

Desesperar, jamais! Esperar sem agir, nem pensar! Mesmo porque as ações afirmativas não tratam de ação social para os mais pobres. Seu foco é a justiça, válida tanto para a base da pirâmide como para a executiva altamente preparada que poderia ocupar uma vaga de executiva ou de presidenta e é deixa de lado porque não é homem.  O foco da ação afirmativa é também melhorar, com justiça, o desempenho nos negócios. Justiça e sucesso nos negócios não são incompatíveis, muito pelo contrário.

Alguém que realmente goste da empresa e queira ver seu sucesso nos negócios não pode defender que apenas homens, brancos, sem deficiência... são capazes de produzir resultados. Talvez haja pessoas que estão tomando decisões sem ter tanto carinho assim pelo sucesso do negócio. Quem gosta da empresa, valoriza e promove a diversidade.

Veja o link para a notícia do Ethos e para a pesquisa, na qual colaboro como um dos especialistas consultados, e que está disponível na íntegra em pdf: Instituto Ethos - Notícias - Ethos e Ibope lançam pesquisa sobre o perfil das 500 maiores empresas do Brasil

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Copa, Olimpíada e oportunidades para o Terceiro Setor

Este é o tema do artigo da jornalista Silvia de Moura para o espaço Empreendedor Social, da Folha de São Paulo. A visibilidade do país no exterior desperta interesse de investidores em projetos sociais, diz a matéria. "A realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016 no Brasil poderá trazer dividendos internacionais também para as organizações do terceiro setor."

A jornalista Silvia é aluna do curso que coordeno na FGV/SP - Gestão de Organizações do Terceiro Setor. A professora Marcia Pastore, também entrevistada na matéria, é responsável pela aula sobre captação de recursos. Veja informações sobre o curso: http://www.fgv.br/fgvpec/curso.asp?id=69. Veja a matéria completa no site da Folha.com:
Prêmio Empreendedor Social - Copa e Olimpíada trazem bons negócios para o terceiro setor

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Inclusão e Diversidade, de Reinaldo Bulgarelli

Inclusão e Diversidade
Reinaldo Bulgarelli, 15 de outubro de 2010

Diversidade é o conjunto de diferenças e semelhanças que nos caracterizam, não apenas as diferenças. Diversos não são os outros que estão em situação de vulnerabilidade, desvantagem ou exclusão. Essa maneira de encarar a diversidade como uma característica de todos nós e não de alguns de nós faz toda diferença quando trabalhamos o tema. Não se trata de incluir os que ficaram do lado de fora porque eles são os diversos. Eles ficaram do lado de fora porque estamos cometendo injustiças e não porque são “desajustados” e os incluídos são os perfeitos.


Portanto, aproximando essa reflexão de nossas vidas, de nossas organizações, é evidente que não estamos falando apenas de oportunidades iguais para todos. É isso e mais um pouco. Abrir espaços, incluir, buscar quem está do lado de fora, reconhecer identidades, compor equipes caracterizadas pela diversidade é um passo muito importante para sermos justos e reconhecermos na prática a dignidade de todas as pessoas.

Ao incluir, tudo é repensado para considerar a todos, o que exige atingir níveis mais altos de excelência na qualidade da educação oferecida, além de gerar aprendizados importantes na interação que acontece entre as pessoas em sua diversidade humana. A diversidade não pode, assim, ser obstáculo para a qualidade, mas uma ponte para o sucesso das pessoas, das organizações e o desenvolvimento da sociedade.

Como se preparar para a inclusão senão incluindo? Todos devemos nos preparar, evidentemente, mas a “perfeição” não pode ser desculpa para não incluir porque jamais seremos “perfeitos” sem a participação do outro que está do lado de fora. Assim, há muitas formas de discriminar e deixar as coisas como estão. Uma delas é pedir para os excluídos aguardarem na exclusão enquanto buscamos a perfeição dentro de nossas instituições...

Inclusão – mais do que dentro e fora, uma transformação do todo

Organizações inclusivas distribuem oportunidades com equidade, oferecem condições de desenvolvimento para todos, reconhecem as pessoas e têm apreço pela diversidade a ponto de considerá-la em suas escolhas, na tomada de decisões em relação a todos os seus públicos e atividades.

Organizações inclusivas ampliam nossa capacidade de realizar boas escolhas individuais e coletivas, favorecendo o próprio desenvolvimento, o desenvolvimento da organização e o desenvolvimento da sociedade onde vivemos.

Incluir é ação, é disposição para o encontro, para a mudança. É gesto concreto de inclusão de pessoas e das perspectivas que elas trazem consigo.

Incluir é movimento de mão-dupla: na direção do outro e de abertura para que o outro se achegue.

Incluir é gesto que considera a existência do outro, reconhece que há outras perspectivas além da sua ou do padrão dominante, com sua versão única de verdade, beleza, normalidade etc.. Incluir é atividade na qual todos se transformam. E sem que ninguém desapareça!

Se alguém deixa de existir, o que acontece é um extermínio e não inclusão.

Se para estar incluído for necessário sumir com alguma característica essencial, não é inclusão verdadeira. Ela deve considerar as pessoas para gerar interações verdadeiras e não desconsiderá-las ou desprezar algum aspecto ou característica.

Incluir é agir para que o outro exista e não um movimento para tornar o outro semelhante a si ou o movimento de negar-se para que só o outro exista.

Desaparecer com o outro, com suas características e perspectivas, é gesto de colonizar, de invadir, de assediar e não de incluir transformando-se e transformando o ambiente.

Incluir é gesto que exige a disposição de todos os envolvidos para o encontro, o diálogo, a troca, o enriquecimento mútuo, algo que acontece no processo de considerar e acolher outras possibilidades de ser, de saber, de fazer, de exercer o poder (todos têm poder!).

Ninguém inclui ninguém! Não há alguém que inclui ativamente e alguém que é incluído passivamente.

Incluir supõe interagir, disposição de todos e não de um. Inclusão é relação, interação e é na qualidade das relações que a diversidade ganha seu maior sentido e potencializa sua riqueza.

Ser inclusivo é dispor-se ao novo, ao inusitado, à transformação.

Inclusão, como interação de qualidade, destrói a ideia de fora e dentro que o termo sugere para dar-se conta de que há um todo transformado pela postura e pelas práticas inclusivas.

Juntar ou juntar-se às pessoas pode ser apenas formar uma aglomeração estática. Interações são transformadoras. Transformam as pessoas e os ambientes.

Incluir é fonte de renovação, de vitalidade, antídoto contra a mesmice. Não se fica o mesmo quando se inclui.

Ninguém inclui o que é igual, o mesmo, mas o que é outro, o que é diferente de si, o que tem algo a acrescentar àquilo que se é, que se sabe, que se pode ou que se faz.

Incluir é gesto que implica em diferenciar-se e em diferenciar para que haja um encontro verdadeiro de perspectivas, interesses, experiências, necessidades e contribuições singulares.

Quem tem medo da diferença e se sente ameaçado por ela, não se dispõe ao encontro, à transformação, à afirmação do que se é e do que o outro é para construir algo novo, um novo lugar, um ponto de chegada que não é o mesmo, mas outro.

Inclusão é resultado do gesto de incluir que faz com que todos se sintam acolhidos em suas singularidades para contribuir com o todo na realização da missão do grupo e da instituição.

Inclusão surge na interação e a fortalece, ampliando as possibilidades de cooperação entre as pessoas, de resolver conflitos e de chegar a um bom termo em relação aos desafios.

Inclusão acontece na construção de ambientes promotores de justiça, de interações colaborativas, da criatividade e de soluções inovadoras para os desafios que afetam uma comunidade ou toda uma sociedade.

Inclusão diz respeito à criação de um ambiente no qual cada um tenha a oportunidade de participar plenamente na criação do sucesso da relação, da missão escolhida, do desafio enfrentado, e no qual todos são valorizados em suas diferentes habilidades, conhecimentos e atitudes.

Inclusão pode formar algo parecido com mosaicos e eles são importantes do ponto de vista da geração de relações justas, equânimes, com oportunidades iguais para todos. Mas a composição de mosaicos pode significar inclusão incompleta por três motivos.

a) O que fez com que alguns ficassem do lado de fora? Sem postura crítica, não há como rever atitudes e práticas. Processos de exclusão podem continuar e gerar inclusões injustas.

b) Mosaicos são estáticos. A adição de valor da diversidade, assim, é apenas potencial. Sem gestão, não há solução! Apenas contemplar a diversidade e compor grupos diversos pode não gerar riqueza além da riqueza já presente. A interação é fundamental.

c) Inclusão precisa de gestão. Sem gestão, pode acontecer o “efeito picles”: todos ficam rapidamente parecidos, com o mesmo jeito, a mesma postura, as mesmas ideias, aparentemente ou não, como estratégia de sobrevivência, por conveniência ou convicção de que há apenas um padrão, o dominante, é o que deve prevalecer.

A gestão da diversidade deve tornar nosso ambiente de trabalho mais dinâmico, favorecer interações criativas, trocas, aprendizados conjuntos. Gestão necessita de intervenção na realidade e não apenas contemplação dessa realidade.

Podemos pensar na imagem dos caleidoscópios para mostrar essa inclusão dinâmica, com foco na qualidade das relações que acontece para além de se estar presente num espaço, num grupo ou equipe.

São identidades, singularidades, experiências, histórias de vida, perspectivas, possibilidades, diferenças e semelhanças que se arranjam e se reinventam em múltiplas composições para gerar, com interações dinâmicas, criatividade, inovação, excelência a serviço da sustentabilidade dos negócios e da sociedade.

Como não somos peças de um mosaico ou de um caleidoscópio, cabe lembrar que nós humanos podemos levar o outro dentro da gente quando interagimos. Não há um dono da verdade, um marcador identitário ou característica nossa que fique ilesa à interação quando é inclusiva, respeitosa, com apreço pela diversidade e suas possibilidades.

Na troca, nos enriquecemos mutuamente. Não são “verdades” que permanecem intocáveis, mas que geram algo novo, que enriquecem nossa vida individual e institucional.

Eu não preciso ser o outro para compreendê-lo, considerar suas perspectivas e necessidades no planejamento das atividades, mas eu posso considerar o outro porque há respeito, consideração, gosto pela diversidade. Exige gestão!

O mix formado neste processo inclusivo não some com as diferenças, mas acrescenta, amplia, transforma em algo novo que considera tudo e atinge novos patamares, novas realidades. Estamos falando de interações criativas com a incorporação de novos horizontes plurais, mais ricos, ampliando nossa visão e nossa capacidade de dar respostas aos desafios do nosso tempo e lugar.

Podemos aprender uns com os outros para sermos mais e fazermos mais, mas para isso precisamos enxergar os outros, dar valor aos outros, sentir falta dos outros, dessa ampliação de horizontes que representam. Não basta, portanto, dizer não à discriminação. É preciso dizer sim à diversidade por meio de práticas que supõem inclusão e gestão da diversidade.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Um professor com Síndrome de Down - RTVE.es

Um vídeo pra quem acredita que a inclusão torna a todos e a tudo muito melhor. Esse professor com Síndrome de Down num país com educação de qualidade ajuda a quebrar barreiras num país que ainda deixa tanto a desejar na educação.

Ainda excluímos da escola regular os alunos com deficiência sem perceber que ao excluir a diferença estamos exlcuindo a diversidade que é característica essencial da vida. Será possível uma educação de qualidade para todos sem que todos participem, estejam presentes, tragam suas perspectivas para interagir criativamente na construção dessa escola melhor num mundo melhor?

Pense na inclusão! Ela é sempre sinal de criatividade, inovação, tudo que a gente precisa para fazer melhor os caminhos de um mundo sustentável.

Un profesor con síndrome de Down - RTVE.es

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Reinaldo Bulgarelli fala sobre os 25 anos do Criança Esperança

A Unesco e a Rede Globo fizeram uma bonita festa para celebrar os 25 anos do Criança Esperança. Foi lançado um livro, que está disponível no site da UNESCO (ver abaixo).

Fui um dos convidados a fazer um depoimento no livro e tenho muito orgulho de ter participado desta história.

Uma questão que apareceu na fala de todos: vamos comemorar mais 25 anos de Criança Esperança? Eu acredito que sim. O Brasil certamente não tem e não terá aquela situação de miséria que estimulou a criação do Programa. Mas, mesmo vencida a miséria, o Programa ainda cumprirá o papel que teve desde o primeiro dia: promover os direitos humanos de crianças e adolescentes, dar voz aos jovens, à sociedade civil organizada, contribuir para uma mudança cultural no país.

Com o fim da miséria, para a qual devemos estar preparados, não haverá mais racismo, machismo, violência contra a criança, desprezo pelos mais velhos? Temos muito que fazer e Programas como o Criança Esperança ajudaram e ajudam a transformar nossa realidade para além do combate à miséria e à pobreza.

Link para o livro: http://www.unesco.org/pt/brasilia/dynamic-content-single-view/news/crianca_esperanca_25_anos_criando_oportunidades/back/9669/cHash/5daab6330b/

Link para o meu depoimento no evento dos 25 anos do Criança Esperança: Globo Vídeos - VIDEO - Reinaldo Bulgarelli fala sobre os 25 anos do Criança Esperança