quinta-feira, 26 de julho de 2012

Diversidade étária - A inovação está na qualidade das relações

Diversidade etária - a inovação está na qualidade das relações.

Reinaldo Bulgarelli, 17 de julho de 2012

O trabalho com jovens, sobretudo aprendizes (em cumprimento à legislação de cotas para jovens nas empresas), mas não apenas, está me gerando algumas questões com as quais venho me debatendo ultimamente.

A primeira delas é que importamos um modelo para pensar as gerações por meio de letrinhas ou apelidos, talvez na tentativa de uma taxonomia que revele quem é quem nesta história toda. Taxonomia é palavra que vem do grego e diz respeito à nossa vontade de classificar as coisas e os seres vivos. Quase tudo pode ser classificado! Assim, temos a geração Y, Z, Baby Boomer e outras.

O problema com elas é que o modelo importado nem sempre se preocupa em adaptar para a realidade brasileira. As tecnologias lançadas nos Estados Unidos não chegaram aqui ao mesmo tempo e nem da mesma forma, com os mesmos significados e alcance. Também a história americana e brasileira guardam distâncias.

Enquanto estávamos nós aqui vivendo em plena ditadura militar, eles lá ampliavam os direitos civis com lideranças que foram até assassinadas, mas não pelo Estado. Enfim, distâncias entre as realidades e impactos no desenvolvimento das pessoas, em sua infância, juventude, inserção no mundo adulto e envelhecimento.

A tentativa de classificar um jovem com atributos baseados nas experiências que teve ou em suas interações com o mundo e suas inovações tecnológicas, culturais, econômicas e políticas, entre outras, pode ser reducionista, limitante e limitadora. Podemos sim falar em gerações, mas as generalizações podem cair num estereótipo que aprisiona o entendimento e tenta aprisionar os sujeitos concretos que estão diante de você.

É importante considerar, por exemplo, a região do país na qual a pessoa nasceu e viveu, bem como seu pertencimento racial, de gênero, de classe social, deficiência, o contexto sócio-político-cultural e econômico. Também há as escolhas das pessoas, seus gostos, enfim, suas individualidades. Se é possível generalizar que tal geração tem uma característica, há que se considerar tantos recortes que quase fica inviabilizada a tentativa de dizer que a geração Z, por exemplo, é assim ou assado.

Geração Z? São os nascidos na metade da década de 90 até os dias atuais. Um mundo de coisas aconteceu neste período e essa taxonomia deve passar a considerar também que as mudanças mudaram, estão cada vez mais ligeiras e profundas.

Bom, você já viu minha implicância com esses apelidos e maneiras de lidar com as gerações, não é mesmo? Volto a dizer que não sou contra a tentativa, mas estranho as generalizações, a falta de um produção de conhecimento sobre contextos brasileiros e a rapidez com que se desconsideram recortes dos mais variados. Os efeitos disso são muitos e temos, em geral, uma turma descontente por ser classificada numa geração com tais características e não outras.

Também há a sensação muito concreta de que tudo isso é utilizado para reforçar estigmas e colocar as pessoas em caixinhas. Se você nasceu nos anos 60, como eu, é rotulado como alguém que não sabe lidar com novas tecnologias e, veja o perigo, pode ser alijado de oportunidades no mercado de trabalho por ver velho, antiquado e sem competências que nem sequer foram verificadas porque sua idade já diz tudo.

Outro perigo é acreditar que toda uma geração tem o dom congênito de salvar o planeta. Ainda hoje ouço e vejo aplicação na prática da máxima de que juventude é igual à inovação. Há empresas perseguindo, humilhando, desqualificando e demitindo os mais velhos por conta desta crença de que para inovar é preciso se livrar dos que nasceram antes dos anos 80 e substituí-los pelos mais jovens.

Não é a perspectiva de empresas que valorizam a diversidade. Elas tentam compreender as diferentes gerações, sobretudo dialogando e estudando os contextos com os muitos recortes possíveis. Elas também sabem que a criatividade, a capacidade de uma organização se reinventar e ser mais inovadora estão na qualidade das relações entre pessoas mais jovens e mais velhas, entre as diferentes gerações que ela é capaz de atrair, desenvolver e fazer adicionar valor a todos.

A inovação não está num polo ou outro, está na qualidade das relações, o que envolve gestão da diversidade etária e a promoção de valores como respeito, diálogo, tolerância, gosto por conviver em espaços plurais, ricos em referências das mais variadas e suas muitas perspectivas. Claro que há a tendência infantil de sempre considerar a sua característica a única, especial, melhor, mais interessante, mas nada que a gestão da diversidade etária não consiga resolver.

Não é gostoso dar-se conta de que tudo que é outro é esquisito e que tudo que é seu é normal, tendo que enfrentar essa lógica, tendo de enfrentar-se nesta construção de algo que seja nosso? Por isso insisto sempre nesta ideia de que diversos não os outros, alguns de nós, mas diversos somos todos.
Uma amiga, a Maju, me disse que a ideia de que esquisitos somos todos era muito interessante, brincando com o nome do meu livro - “Diversos Somos Todos”. Ela está certa.

É também injusto para com os jovens atribuir-lhes a tarefa da inovação e a salvação da lavoura. Eles mal chegaram e já estão recebendo este peso nas costas. Quando vejo empresas organizando seus espaços de diálogo e de atuação conjunta, de cooperação, entre pessoas das diferentes idades, ouço relatos interessantes sobre o valor da diversidade. Os mais velhos e os mais jovens agradecem a oportunidade que tiveram de conviver, de aprender coisas que suas turmas sozinhas não conseguiriam aprender. Os mais jovens, sobretudo, se sentem mais aliviados e seguros porque é muita pressão ficar esperando que alguém apresente algo novo sem nem mesmo ter conhecido o que já foi feito.

Rebelião! Se você também está incomodado com esses rótulos superficiais e que servem para impor um lugar para você no mundo, rebele-se, diga como se sente, recuse fazer parte de grupos que lhe são impostos. Todos nós nascemos para brilhar! O ano em que você nasceu, como outros marcadores identitários, não pode ser uma sina, um destino traçado que define o que você foi, é e será. A vida é bela e muito mais interessante que isso. Os marcadores identitários são uma referência para construirmos o futuro e não para sermos congelados em alguma prateleira das organizações.

Publicado originalmente em 17 de julho de 2012 no Blog da Rede Ubuntu -
http://www.redeubuntu.com.br/blog/diversidade-et%C3%A1ria-inova%C3%A7%C3%A3o-est%C3%A1-na-qualidade-das-rela%C3%A7%C3%B5es