quinta-feira, 29 de março de 2012

Mais diversidade significa mais excelência!


O jovem cadeirante ficou preso nesta grade, que ele chamou de armadilha, ao sair do trêm do Metrô em SP. Ele postou no Facebook e as notícias sobre o caso estão circulando pelos meios de comunicação.
Os empregadores usam essas situações para justificar (?) a não contratação de pessoas com deficiência e o circulo vicioso está formado ou fortalecido.
Empregadores, sejam solidários e conversem com as pessoas com deficiência para entender o que enfrentam para chegar ou sair do trabalho, assumindo compromissos para com a melhoria das políticas públicas e as condições de acessibilidade para todos.
É simples e bem melhor do que ficar lamentando. Quando ao Metrô, também empregador, quanto mais pessoas com deficiência por lá, menor é o risco desta insensibilidade, pra dizer o mínimo, se repetir.
Mais diversidade significa mais excelência! Diversidade significa melhor entendimento e atendimento do seu público, cuidado na qualidade das relações e contribuição significativa para elevar na sociedade os padrões de respeito e promoção dos direitos humanos. Uma empresa inclusiva contribui para uma sociedade inclusiva.
Acolher a diversidade como valor signfica acolher a inovação, promover interações criativas e soluções que sejam sustentáveis para todos. O contrário disso é gerar armadilhas para alguns, mas que comprometem a vida de todos. Alguém tem dúvida disso?

quarta-feira, 28 de março de 2012

Voluntariado empresarial: minha homenagem à liderança de Cristina Y. Fernandes

A foto ao lado, tirada por Andrea Goldschmidt, da Apoena Sustentável, é do grupo técnico constituído por membros de organizações não governamentais, consultorias e equipe de profissionais da Fundação Itaú Social. Foi tirada no final do ano, quando realizamos um balanço das atividades realizadas em 2011. A reunião foi na Txai, inaugurando a fase de visitas a cada organização membro do grupo que assessora as ações de voluntariado empresarial no Itaú Unibanco.

Ontem, 27 de março de 2012, foi a despedida da Cristina Yoshida Fernandes da Fundação Itaú Social, onde estava à frente do Programa Voluntários Itaú Unibanco. Ela quer levar essa experiência toda para outros lugares, outros temas, vivenciar outros desafios, como acontece na vida de todo mundo de tempos em tempos. Tem algo mexendo dentro da gente que faz sair em voo livre para encontrar novas oportunidades para expressar o que trazemos de singular para o mundo. Assim acontece com a Cris, que liderou durante alguns bons anos o programa de voluntariado empresarial mais importante do país, na minha humilde opinião.

Cris liderou o programa com um encanto especial pelo desafio. Eram muitos! Ela soube aliar o compromisso com temas sociais relevantes com a identidade da organização, bordando, construindo pontes, provocando encontros nunca antes imaginados entre negócios e desenvolvimento social. Quando vejo gente bacana como a Cris, lembro da frase que sempre cito nas palestras: “O desenvolvimento sustentável não pode ser alcançado por um país sozinho. Não pode ser alcançado em uma só esfera, como a economia. Esta prática exigirá certas parcerias nunca antes estabelecidas na História” Cumprindo o Prometido - WBCSD, 2002


Não é tarefa simples, muito menos fácil. Tem horas que o mundo empresarial e sua lógica, seus rituais, sua linguagem toda própria quer invadir a prática social sem se dar conta de que o terreno exige humildade, sensibilidade, atenção para peculiaridades que, afinal de contas, geram aprendizados relevantes para a empresa. Tem horas que o mundo do social, seus atores e organizações com sua lógica, seus rituais, sua linguagem toda própria quer invadir a prática das empresas sem se dar conta de que o terreno exige também humildade, sensibilidade, atenção para peculiaridades que geram os aprendizados as organizações da sociedade civil e do governo.

É preciso ser um artista para promover esse diálogo fértil considerando a diversidade. E a Cris fez um trabalho excepcional porque é esta artista do invisível, como diz o Alan Kaplan em seu livro “Artistas do Invisível”, da Editora Peirópolis. Com um sorriso largo e muita disposição para ouvir e aprender, disse a que veio e contribuiu significativamente para a construção de um programa sólido ou, mais que isso, para uma referência no meio empresarial de como é possível fazer as coisas promovendo encontros.

Um programa de voluntariado empresarial é esta tentativa de mobilizar as pessoas para um encontro que acontece na intersecção entre setores, fazeres, desejos e interesses dos mais diversos para promover o bem-comum. Cada setor, cada organização e cada profissional já devem estar inseridos no todo da sociedade contribuindo para o desenvolvimento sustentável, mas o voluntariado cria canais de comunicação e troca entre todos por meio das pessoas. No voluntariado as pessoas se expressam, os aprendizados podem fluir, acelerar, humanizar e qualificar processos de transformação da realidade. Quando a pessoa está no centro do desenvolvimento, ele é mais consistente e faz sentido para todos.

Não, a Cris não agiu sozinha e não é uma heroína solitária que enfrentou dragões. Ela soube articular-se e articular em volta de sua tarefa um grupo gigante de pessoas que a ensinaram e aprenderam com ela, que juntaram forças e aprimoraram abordagens e práticas. Uma líder é assim mesmo, capaz de se fazer presente, de não sumir na multidão e fazer com essa multidão tenha nome, rosto, histórias, identidade. Não sei o que a Cris vai fazer daqui pra frente, mas o que deixou de contribuição nestes anos em que esteve à frente do programa de voluntariado empresarial do Itaú Unibanco a credenciam para que seja sempre considerada. É bom prestar atenção na Cris.
Postei mais um artigo no Blog do Guilherme Bara. Desta vez estou falando sobre a questão do mercado de trabalho e os presos, fazendo referências a um evento da Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho - SEMDET, da Prefeitura de São Paulo, e a publicações, incluindo o importante manual do Instituto Ethos.
Veja o artigo -

sábado, 10 de março de 2012

Organizações MMM
Masculinas, masculinizadas e masculinizantes

(foto de Guilherme Bara)

Foi com este tema que inaugurei minha coluna no blog do amigo Guilherme Bara. Ele me convidou para escrever sobre diversidade neste espaço que trata de política, diversidade e muito mais, como está por lá.

Guilherme é deficiente visual, trabalha com o tema da inclusão de pessoas com deficiência no meio empresarial e em organizações não governamentais, além de ter uma bela trajetória como militante do PSDB.

Poderia ficar na dele, na linha do "deixa a vida me levar...", mas milita, é inquieto, gosta de justiça e não se nega a dar sua contribuição para termos um mundo mais sustentável e inclusivo. Aprendi muito com Guilherme nos poucos anos de convivência e ele é uma referência para mim quando cito uma pessoa com deficiência que sabe atuar na área de negócios de uma empresa. Ele mesmo conta sua história no blog.

Estou no blog acompanhado de amigos do Guilherme, como Andrea Matarazzo, Mara Gabrili, Floriano Pesaro, Humberto Dantas, Ricardo Montoro e Soninha Francine.

Quanto ao meu artigo, aproveitei o espaço para falar mais uma vez das organizações MMM, aprofundando alguns aspectos que outros espaços ainda não tinham permitido. Nas próximas colunas, sempre a diversidade presente e interagindo com os temas do Guilherme.

Segue link para o Blog do Guilherme:
http://www.blogdoguilhermebara.com.br/organizacoes-mmm-masculinas-masculinizadas-e-masculinizantes/

quinta-feira, 8 de março de 2012

Dia Internacional da Mulher 2012

Conquistas femininas
Conquistas masculinas

Reinaldo Bulgarelli, 08 de março de 2012

Mais visibilidade, mas a desigualdade continua

As mudanças que estão ocorrendo no país nos últimos anos, sobretudo com a entrada significativa das mulheres no mercado de trabalho, faz pensar sobre a visibilidade que elas estão ganhando, apesar da persistência das desigualdades. Elas estão mesmo mais visíveis e, com isso, diversificando a gama de assuntos relacionados ao ser mulher no mundo contemporâneo.

O inimigo da mulher é o homem ou é o machismo?

Contudo, as relações de gênero permanecem invisíveis. Pouco se fala que o grande inimigo da mulher é o machismo e que ele se dispõe, com as devidas peculiaridades, para homens e mulheres, passeando com sapato de pregos por todas as cabeças. Os prejuízos do machismo para as mulheres estão sendo desvelados e explicitados quanto maior a presença delas em diferentes lugares na sociedade. Mas, e os homens?

Impacto no número de avanços, na velocidade e na qualidade dos mesmos

A invisibilidade do tema das relações de gênero, que envolve homens e mulheres nos seus papéis construídos socialmente, deixa o debate empobrecido, pode estar limitando o número e a qualidade dos avanços. Digo isso, para não generalizar, a partir do olhar sobre a realidade empresarial e do movimento de mulheres surgido no âmbito das grandes empresas durante a última década.

Práticas com foco em mulheres que fingem não existir o machismo

Elas, as mulheres, estão se organizando em grupos para discutir as velhas e novas situações que estão enfrentando. Aumentou o número de mulheres nas empresas e elas estão em atividades, incluindo a liderança, onde nunca estiveram antes. Há mesmo muitos assuntos a serem abordados e é importante se unir para tratar disso tudo. Há grupos que, aliás, só pensam na questão da carreira, sobretudo nas empresas que trabalham com metas. Há programas de mentoring com foco em mulheres e muitos deles eu mesmo ajudei a criar. Tenho participado de eventos fantásticos que envolvem até dicas de etiqueta, moda, e finanças pessoais. Excelente! Mas, e os homens?

Discussão empobrecida, resultados empobrecidos

A pobreza desta abordagem está na ausência de conceitos que tratem das relações de gênero nesta nova configuração, o que impacta as práticas. Se há um mundo perfeito que não contempla as mulheres, a tarefa é entrar nele e ocupar todas as posições. Os homens são os inimigos – assim citados explicitamente ou de forma velada, que devem ser removidos para dar lugar a esta marcha triunfante.

Só é real e efetivo o que cabe na planilha de Excel

Parte desta pobreza na abordagem se explica na própria ideologia do machismo, mas parte também está relacionada à peculiaridade do mundo empresarial e sua cultura de rejeição a tudo que não seja prático, concreto, com planos e resultados que se encaixem numa planilha de Excel. Mesmo onde há uma liderança de alto escalão em busca de novas ideias, refletindo e filosofando sobre a identidade organizacional, a marca e o contexto social, político, cultural e econômico, impera nos escalões abaixo a rejeição e a desqualificação disso tudo.

Tudo que significa mudança é teórico, blá-blá-blá...

Como relações de gênero parece conceito complexo demais para caber na planilha, as práticas acabam projetando os conceitos adotados implicitamente. Toda prática expressa uma visão de mundo, um conceito, quer queiram ou não aqueles defensores da queima de livros. Dizem que é teórico tudo que envolve uma nova maneira de agir na realidade e dizem que é prático tudo que confirma o que pensam e lhes garante conforto.

Ocupar lugares e transforma-los!

Nesta triste história de rejeição e desqualificação do pensar, as práticas demonstram certa ingenuidade ao achar que a tarefa é apenas entrar e ocupar espaços neste mundo perfeito. Tenho abordado essa questão das organizações masculinas, masculinizadas e masculinizantes como uma forma de chamar a atenção para este mundo nada perfeito, buscando que se amplie a reflexão sobre o lugar a ser ocupado e, mais que isso, transformado.

Um mundo para as mulheres, das mulheres ou com as mulheres?

Queremos organizações do jeito que são hoje, mas com mais mulheres? Queremos organizações apenas de mulheres? Ou será que queremos organizações que sejam tão masculinas quanto femininas na maneira de ser, de planejar, de agir ou de operar seus negócios? Essa última alternativa é a que defendo, sabendo que ela envolve uma transformação de homens e mulheres, de suas relações e, portanto, da dinâmica das organizações.

Um mundo feminino ou um mundo que valoriza a diversidade?

Há quem defenda que mulher é melhor em tudo, portanto, que o mundo ideal seria liderado pelas mulheres. Mas há quem defenda, como eu, que a riqueza está na diversidade, no processo de interação entre homens e mulheres, algo complexo, dinâmico e que está agora acontecendo bases que há dez, vinte ou quarenta anos atrás não existiam. Na interação dada, os homens mandam e as mulheres os servem. Na interação trabalhada intencionalmente na direção da diversidade, homens e mulheres repensam seus papéis, suas histórias e seus projetos de vida, considerando suas características e as novas necessidades.

Mulheres e homens que se reinventam

Não há avanços significativos sem o envolvimento dos homens. Assim como as mulheres, eles são parte do problema e também são parte da solução quando a questão é enfrentar o machismo. Na defesa de suas posições e privilégios, não sejamos ingênuos, muitos homens se colocam como inimigos das mulheres e arrumam argumentos até sofisticados para dizer por que elas não estão presentes e jamais deveriam estar. Mas o enfrentamento do machismo é algo que permite superação de práticas, reinvenção de si mesmo, repensar papéis e reconstruir a própria história em novas bases.

Provedores e cuidadores

Um dos efeitos do abandono dos homens pelo caminho é que as mulheres estão conquistando o lugar de provedoras, mas acumulando o papel de cuidadoras. E os homens? Estão dividindo com as mulheres o papel de provedor, mas não estão assumindo o papel de cuidadores. O que se busca? Parece que é mais interessante a todos termos homens e mulheres que sejam ao mesmo tempo provedores e cuidadores. As tarefas reprodutivas não chegaram ainda ao mundo masculino na mesma proporção que as tarefas produtivas estão sendo assumidas pelas mulheres.

Mulheres liberadas e homens interditados

Sempre cito em minhas apresentações que há anos atrás as meninas eram proibidas de brincar com os meninos, com seus brinquedos e rituais que estes envolvem, assim como os meninos eram interditados de brincar com as meninas, seus brinquedos e rituais. Hoje, os meninos continuam interditados enquanto as meninas brincam de tudo. Qual o impacto disso na vida das meninas? E dos meninos? Eles continuam, por exemplo, não brincando de boneca, de casinha, deixando de se preparar para um mundo onde terão cada vez mais que conviver com mulheres que trabalham, que os chefiam, que são seus pares em tarefas para as quais não foram preparados.

Infantilização dos homens – novos desafios e as mesmas respostas

Poderemos ter homens solitários, que não conseguem estabelecer uma relação significativa com mulheres, principalmente quando elas também mandam, são provedoras e até ganham mais do que eles. Temos homens infantilizados frente aos desafios do nosso tempo, com respostas velhas e simplistas para questões atuais. Mas, eles se sentem convidados a se reinventar?

Empresas contemporâneas e homens trogloditas

Se hoje a competência é baseada na capacidade de comunicação, de cuidar da equipe, de cuidar da qualidade das relações com todos os stakeholders, na sensibilidade, no olhar o todo, receber e dar feedback, quem tende a receber melhor avaliação? Quem foi educado para cooperar, cuidar, considerar impactos e quem foi educado para competir, prover e para ter foco? No mercado de trabalho, eles estão sendo cada vez mais avaliados de maneira negativa frente à exaltação dos atributos femininos, mais sintonizados com o perfil da empresa contemporânea e com os desafios do momento.

Muitos desafios e muitas possibilidades ao alcance de todos

Chegaremos a algum lugar interessante sem que homens e mulheres estejam juntos realizando estas reflexões e compartilhando visões, interesses e aprendizados? É possível que apenas as mulheres se livrem ou nos livrem a todos do machismo? O Dia Internacional da Mulher foi criado para darmos mais atenção a estas reflexões sobre como queremos ser homens e mulheres no século XXI. Não temos apenas problemas, mas há muitas possibilidades que estão colocadas e cuja potencialidade de transformação de nós mesmos e do mundo pode no levar a lugares muito melhores do que os atuais. É uma tarefa apenas das mulheres?