domingo, 27 de julho de 2014

Perguntas e respostas

Perguntas e respostas

Reinaldo Bulgarelli
04 de junho de 2006

"Acabemos de uma vez com a única crise ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la. Não pretendamos que as coisas mudem se sempre fazemos o mesmo."
Albert Einstein
“Quando a gente acha que tem todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas...”
Luis Fernando Veríssimo
Estamos cercados de respostas por todos os lados. Queremos respostas e elas estão diante de nós em todos os lugares, em cada nascer do sol, cada flor que se abre, cada bicho que nasce, cada criança, adulto ou idoso em seus cotidianos variados.
O que não temos são as perguntas no tempo certo para dar conta de tantas respostas. Muitas perguntas são formuladas muito tempo depois que as respostas foram dadas. E ainda tem gente que se dedica a buscar respostas e não a formular perguntas. Ainda tem gente achando que o mais importante e concreto são as respostas importantes e concretas para aquelas mesmas questões que estão formulando há séculos.
Mudem as perguntas, façam outras, invertam a ordem, busquem ressignificar as coisas e seus nomes que talvez a gente encontre mais rápido soluções novas para os desafios que a cada dia vamos inventando e sofisticando. Tudo é muito complexo para ficarmos repetindo perguntas ou para nos darmos ao luxo de não formulá-las.
Saramago nos diz isso em sua frase genial: “Tudo no mundo está dando respostas, o que demora é o tempo das perguntas”.
O tempo das perguntas é por demais demorado quando queremos, como Einstein nos ensinou, resolver novos desafios com antigas soluções. “O mundo não vai superar a crise usando o mesmo pensamento que a criou.”
Nossas organizações em geral, sejam elas empresas ou escolas, ONGs, sindicatos e governos, precisam urgentemente repensar a forma como produzem perguntas e aí a diversidade tem um papel fundamental. Com cabeças que pensam e perguntam diferente, enxergamos respostas que antes eram invisíveis. Quanto mais tornamos invisíveis algumas pessoas por serem diferentes do padrão dominante que criamos, mais invisíveis ficam as soluções que precisamos dar no momento atual do mundo.
Marcel Proust, para quem o olhar era tudo, disse que "A verdadeira viagem do descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, mas em ver com novos olhos".
Ou seja, tudo indica que a diversidade pode nos ajudar a pensar de outra forma, a formular novas perguntas e a ver as paisagens com outros olhos.
Inserir diversidade na tomada de decisões é exatamente acolher novos pensamentos, perguntas e olhares na busca de soluções e resultados efetivos para nossos desafios.
Faça outra pergunta para o mesmo problema e envolva mais gente nesta tarefa. Quem sabe a resposta não estará diante de você? Boa sorte!
*Revisto em 27 de julho de 2014.

sábado, 26 de julho de 2014

Mercados Diversos

Pequenas empresas e a diversidade

A Revista Ideia Sustentável de julho de 2014 traz estudo da Next com 8 tendências de sustentabilidade para pequenas e microempresas.

Entre experiências práticas e opiniões de especialistas, a tendência 7 trata de diversidade com um artigo meu sobre "A pequena empresa e a diversidade" (pg 78 e 79).

Com dados sobre o mercado de trabalho em geral e o recorte para micro, pequenas e médias empresas, priorizo a abordagem da questão da mulher, do negro e da pessoa com deficiência.

Segue link para a Revista (tem de cadastrar-se antes):  http://www.ideiasustentavel.com.br/cadastro_revista/

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Trabalho infantil

Trabalho infantil e o “sindicato” de crianças na Bolívia

Reinaldo Bulgarelli
14 de julho de 2014

Crianças e adolescentes se organizam na Bolívia para pedir que o trabalho seja liberado a partir dos 10 anos de idade.

No Brasil, com apoio até das igrejas, de ONGs e dos governos, tínhamos associações de engraxates e outras aberrações que a cidadania tratou de varrer da história.

Problematizamos o trabalho das crianças (era tido como solução e não como problema), aderimos à idade mínima de 14 anos (acho que deveria ser pelo menos aos 16 anos, mas...), criamos um cenário positivo afirmando que lugar da criança era na escola e não nas ruas, favorecendo a mobilização da sociedade para encontrar outras soluções.

E assim foi. Colocamos nossa criatividade, energia e recursos para encontrar soluções que não estivessem baseadas em remendos e conivência com o trabalho das crianças. Nada de manter o trabalho infantil enquanto não existem outras soluções. Proibimos o trabalho infantil, incondicionalmente, para que outras soluções surgissem.

Se tivéssemos mantido aquela proposta de dar uma caixa de isopor para cada criança pobre vender picolé na rodoviária da cidade (com logomarca da ONG ou da prefeitura), a situação no Brasil estaria ainda pior em relação ao trabalho infantil. Avançamos e muito.

Programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, se mostraram muito mais eficazes para enfrentar a pobreza e esse dado cultural, com sociedades que têm gosto pelo trabalho das crianças e as colocam para ajudar no sustento da família.

É a família que deve ajudar a criança e não o contrário. É o Estado que deve ajudar a família a ajudar suas crianças. No atraso, nesta visão que tudo vale para os filhos dos pobres, o Estado vai ajudar a criança a ajudar a família e ninguém sai do lugar.

Os comentários a esta notícia da Folha mostram como pensam muitos que têm adoração pelo século passado e nele gostariam de viver. Felizmente, o patamar aqui é outro no enfrentamento do trabalho infantil. Programas oficiais e não governamentais de gente cínica que exploravam crianças em nome de uma educação dos pobres para o valor do trabalho já não encontram mais lugar no marco legal.

Ou será, com base nos comentários, que essa gente cínica e exploradora está perdendo a vergonha também neste tema e volta a defender abertamente o quanto é bom uma criança pobre ficar nas ruas da cidade até tarde da noite, como o líder "sindicalista" da Bolívia?

Quem defende o trabalho infantil, no modelo defendido pelo sindicato mirim da Bolívia, tem seus filhos engraxando sapatos na Praça da Sé ou vendendo doces nos trens?

Se não colocou os filhos para trabalhar, então assuma que odeia pobres, que defende que só os ricos devem ter auxílio do Estado com suas bolsas, universidades gratuitas, ajuda financeira para pesquisar os pobres, isenção nos impostos etc etc etc.

Assuma e defenda abertamente que as crianças pobres não deveriam nem receber migalhas sem pagar por elas com o suor do trabalho. Só não engane a si mesmo e aos outros dizendo que o trabalho dos pobres educa. É exploração mesmo e ponto.