sexta-feira, 3 de abril de 2015

Ódio


Ódio
Reinaldo Bulgarelli
03 de abril de 2015
 

O ódio parece ter um alvo, mas tem mesmo é pavor de gente, de tudo que é gente.
O ódio manda e desmanda, gosta de parecer sério, durão, falar alto, cuspir palavras, babar venenos, retratar o mundo como o inferno que vai dentro dele.

O ódio é cheio de ordens pra dar, quer mandar até no tempo e botar todo mundo pra morar no seu passado, só porque não tem a menor vontade de construir futuros.

O ódio é ignorante, não quer compreender os problemas e buscar a melhor solução, quer julgar e exterminar.

O ódio é covarde, joga culpas e não assume responsabilidades, gosta de incitar os outros a fazer o que quer e diz que estava só falando verdades.

O ódio é mentiroso, distorce tudo a seu bel prazer porque o importante é mostrar quem manda e quem tem razão.

O ódio é opressor, não gosta de liberdade, não aceita que se façam escolhas porque já tem tudo pronto para o mundo, como ele deve ser e como deve se comportar.

O ódio é arrogante, assume o lugar da verdade e não sabe lidar com a dúvida e muito menos com o erro, com o que outros têm a dizer, o que outros vivem, sentem, pensam, querem, buscam ou escolhem.

O ódio é autoritário, não deixa espaço para a incoerência, para a contradição, quer tudo certinho, em ordem, como se a vida acontecesse numa régua.

O ódio é destruidor, nada escapa e nada fica de pé, a não ser sua inarredável vontade de imperar sobre tudo.

O ódio é vingativo e não justo, não quer o que é certo, mas o que diz ser correto segundo a suas leis inquestionáveis.

O ódio é intolerante porque não suporta a diversidade e detesta o que não é homogêneo, liso, plano, enfim, o que não é a sua imagem e semelhança, o que não dá para ele comandar e controlar.

O ódio é preguiçoso, mas diz que é prático, que gosta de sair fazendo e não de ficar falando. Não tem a menor vontade de lidar com o imponderável, o improvável, as surpresas da vida e, assim, não sabe lidar com a própria vida.

Quando a gente começa a confundir indignação com destruição do inimigo, quando a gente confunde exercício da cidadania com humilhação dos mais fracos, quando a gente começa a dizer que o mundo está perdido e sente vontade de sair dando tiro, quando perde a vontade de escutar, de compreender, de dialogar, cuidado, o monstro do ódio tá vindo morar dentro da gente e vai querer dominar tudo em volta.