terça-feira, 12 de maio de 2015

Diversidade humana e a humanização da diversidade


Anjo de costas, sem rosto, só asas. (foto: Reinaldo Bulgarelli)
Diversidade humana e a humanização da diversidade
Reinaldo Bulgarelli, 12 de maio de 2015

A diversidade nas organizações empresariais enfrenta o desafio de se humanizar. Muitos dizem que não é importante falar de diferenças, muito menos das questões de gênero, raça, idade, orientação sexual, identidade de gênero ou deficiência, entre outras características, mas da diversidade cultural, de pensamento ou de ideias.
Defendo que a diversidade nos convida a olhar tudo junto e ao mesmo tempo. Estamos falando da diversidade de características tidas como visíveis, tanto quanto estamos falando da diversidade de histórias de vida, experiências, sentimentos, pensamentos, crenças e perspectivas.
Os motivos para isso são muito simples. Ninguém, por exemplo, é apenas mulher. É mulher e muito mais, numa complexa e rica variedade de marcadores identitários que tornam cada pessoa única ou singular. E as mulheres vivem numa dada realidade, um tempo e lugar que a valoriza ou a desqualifica conforme o grau de machismo presente na sociedade.
A característica “ser mulher” traz implicações na rede de relações sociais de acordo com o entendimento produzido pelo machismo sobre o que significa ser homem ou ser mulher, quem pode mais, quem nasceu para isso e para aquilo, quem é forte e quem é frágil. Uma característica tida como visível pode produzir experiências das mais variadas numa pessoa do sexo feminino e no seu entendimento sobre os papéis de gênero que a cercam desde o nascimento.
Uma das consequências do machismo é a produção de desigualdades injustas entre homens e mulheres. São injustas porque estão num nível intolerável e não estão baseadas no mérito, mas na característica. O que é apenas uma característica, se transforma em motivo para desigualdades injustas e, numa sofisticada teia de geração de falsas hierarquias sociais, essas desigualdades podem ser naturalizadas. O que é do campo social, essa desigualdade produzida na vida em sociedade, é justificada como se fosse do campo da natureza, da biologia ou da genética.
Só por esses motivos já é possível insistir no convite da diversidade para seja humanizada, ou seja, para que se considere a pessoa toda nas suas circunstâncias, na rede de relações e nesta teia de ideologias da discriminação (racismo, machismo...) na qual estamos imersos e da qual precisamos nos libertar. Humanizar a diversidade parece redundante, mas não é o que acontece quando nossos programas de valorização da diversidade pinçam um marcador identitário, como ser mulher, separando-o da história de vida e de todos os outros marcadores que contém, suas implicações e impactos.
No pensamento simplista, ou você é mulher ou é uma ideia, ou é um corpo ou uma alma. Acolher a vida como ela é significa considerar um marcador identitário como porta de entrada para toda a riqueza da diversidade humana contida em cada pessoa, uma singularidade que se expressa de forma dinâmica e complexa na teia de relações sociais.