sexta-feira, 31 de julho de 2015

Diálogos da Esperança - 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente

Diálogos da Esperança - 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente

Reinaldo Bulgarelli
31 de julho de 2015

Participei de um seminário promovido pela Globo e pela UNESCO que foi ao ar no último dia 26 de julho. Ele reuniu a equipe de ativadores do Criança Esperança, especialistas e Pedro Bial, que nos entrevistou.

São 30 anos do Criança Esperança e 25 anos do Estatuto da Criança e do Adolescente que a Globo e a Unesco estão celebrando de uma maneira muito inovadora.

Para quem tem acesso ao Globo Play, segue o link: http://globosatplay.globo.com/globonews/v/4348642/

domingo, 26 de julho de 2015

Trindade


Trindade
Reinaldo Bulgarelli
07 de julho de 2015

Trindade abaixava a cabeça quando passava pelas pessoas. Eu o seguia com olhos curiosos e amedrontado. Morria de medo de me tornar o Trindade. Ele abaixava a cabeça porque decerto via, mesmo sem olhar, aqueles olhares desconcertados. Também ouvia, fingindo não ouvir, os comentários desencontrados que sua presença impunha. Eu não entendia muito bem o porquê. Só sabia que não era bom ser Trindade. Perguntava, mas ninguém respondia. Acho que já nem lembravam mais o motivo, se é que um dia souberam.
Vi meus pais entrarem em silêncio como se algo fosse acontecer. Era Trindade passando na frente do nosso prédio. Eu estava grudado nas grades e fazia acrobacias de menino como se nada mais pudesse ver ou escutar. Mas, não era bem assim. Minha mãe disse que ele não ia muito longe. Parei para olhar ele cair, mas não caiu. Meu pai, balançando a cabeça em desaprovação, apesar de concordar, reprovava era o Trindade. Acho que também tinham medo de se tornar um Trindade.

Dias depois eu me estatelei no chão. A bicicleta de rodinhas descia a Rua Itambé como se fosse uma locomotiva, mas não derrubou o poste. Fui parar logo adiante com um galo na cabeça e os joelhos ralados. Alguém me pegou por trás e me levantou, virou meu rosto para mirar o galo que crescia numa vermelhidão assustadora. Não sei se eu parava de chorar ou se chorava mais ainda. Era o Trindade. Passou a mão nos meus cabelos e me botou na direção da bicicleta. Não disse nada, apenas mostrou o caminho com os olhos.

O porteiro do prédio veio ao meu socorro, não sei se pelo tombo ou se pelo Trindade. Ele, como sempre, seguiu seu caminho de cabeça baixa e ouvidos tapados. Eu o segui do alto do colo do seu Ernesto. Ele me acudiu no desastre e o seu Ernesto me acudiu de quem me acudia. Chorei ainda mais quando minha mãe ofereceu a acudida derradeira. O colo de quem a gente confia gera uma perda total de compostura.

Segui adiante, nem sempre tendo colo por perto, mas sempre encontrando Trindades. Já não choro mais ao encontra-los. O medo me fez observa-los e a curiosidade me fez até admirá-los, mesmo que de longe, às vezes mais de perto. O Trindade era fantasma de carne e osso que me invadia os pesadelos, estivesse dormindo ou acordado. Depois, foi invadindo meu jeito de olhar o mundo.

Ficou interessante olhar com olhos de Trindade. Ficou divertido considerar o que diria ou o que faria Trindade diante de qualquer situação que se me apresentava. Sempre seremos Trindade para alguns. O mundo sempre fica desnudo quando o Trindade passa. Aprendi que Trindade, seja lá por qual motivo for, sempre amedronta e atrai com seu andar que faz desmoronar as caras de paisagem.