segunda-feira, 7 de março de 2016

Dia da Mulher: a promoção da igualdade nas empresas

Dia da Mulher: a promoção da igualdade nas empresas
Reinaldo Bulgarelli, sócio-diretor da Txai Consultoria e Educação
08 de março de 2016

Este artigo, pensado para pessoas que estão inseridas no mundo das empresas, tenta apresentar algumas ideias que atrapalham o caminho e outras que podem nos ajudar a seguir adiante e mais rapidamente.
Feminismo.

O que é ser feminista? É ser a favor da igualdade entre homens e mulheres. Tão simples, mas tem sido difícil construir essa igualdade, tanto é que estagnamos em alguns pontos e precisamos de novas abordagens e estratégias para avançarmos. 

Quando somos feministas e defendemos a igualdade entre homens e mulheres, estamos apenas colocando em prática o que está na Declaração Universal de Direitos Humanos: todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos.

Então, se você preferir não adotar o nome de feminismo para essa crença, fique à vontade porque o importante mesmo é compartilhar dos princípios, dos valores universais de direitos humanos e, sobretudo, agir com base neles para transformar essa afirmação da liberdade e da igualdade em algo concreto.

Igualdade? Quer dizer que não existem diferenças entre homens e mulheres?

A luta pela igualdade não significa dizer ou supor que não haja diferenças entre homens e mulheres. A pessoa precisa ser muito ingênua para dizer que é contra o feminismo porque homens e mulheres são diferentes. E são mesmo diferentes de muitas maneiras.

A igualdade que interessa aqui afirmar é a que considera nossas diferenças para promover justiça, ou seja, estamos falando de equidade e visando o desenvolvimento pleno de nossos potenciais como homens e mulheres.

A diferença está para a diversidade como a desigualdade está para a opressão.

Portanto, a diferença que existe no fato de ser do sexo feminino não pode se transformar em motivo para desigualdades injustas, desvantagens, vulnerabilidades, violências, desqualificações e exclusões. E isso tudo costuma acontecer em função de uma visão sobre a superioridade dos homens.

O que é diferente se transforma em desigualdade injusta. Homens e mulheres possuem características, semelhanças e diferenças numa relação que poderia ser marcada pela riqueza que a diversidade oferece. Contudo, a mulher se torna diferente do homem, o ser superior, e não apenas uma pessoa com características nas quais há diferenças e semelhanças em relação aos homens.

Não suma com as características. Considere-as!

Somos diferentes e, aliás, viva a diversidade! É o segredo da vida em todos os sentidos, cultural e biologicamente falando. Quando afirmamos a igualdade para sumir com as diferenças, não é um bom caminho, é opressão de uns sobre outros porque o que irá imperar é o que se acha superior ou aquele que é escolhido como superior. Iguais em dignidade e direitos é o que está sendo afirmado e o que precisa mover nossa vontade para a construção de nosso pleno desenvolvimento como pessoas e como sociedade.

Igualdade, então, não significa sumir com as diferenças ou, de forma mais ampla, com as características. É preciso considera-las ao se pensar em qualquer atividade humana, ao se pensar no nosso jeito de ser, de fazer as coisas e de nos relacionarmos.

Dê à natureza o que é da natureza! Desnaturalize o que está no campo social.

Para isso, é importante não naturalizar as desigualdades injustas ou atribuir a comportamentos, escolhas que realizamos sobre como ser homem e mulher na sociedade, esse ar de ciência natural, de biologia que tudo explica e tudo justifica. Nossos costumes, hábitos, a cultura na qual estamos imersos é a responsável por muito do que acontece e não a natureza.

Se a sua frase começar com “é natural”, pare e pense bem. Pode estar escondendo algo de opressão, de injustiça que pode ser resolvido, enquanto o que é da natureza entregamos para ela resolver. Desnaturalize!

Colocar no campo do natural o que está dado no campo das relações sociais, da cultura, das coisas que inventamos sobre como ser homem e ser mulher em diferentes tempos e lugares é um dos entraves maiores que as mulheres enfrentam.

Sexo e gênero – o natural e o social.

Por isso estamos falando aqui de gênero. Simplificando, é como uma casca de cultura sobre a realidade biológica que também nos caracteriza, mas que não nos aprisiona ou nos conforma numa realidade como se fosse um destino traçado, um lugar para habitar para todo o sempre. Nenhum ser humano é assim. Não nos conformamos com nada e a tudo transformamos.

A própria natureza não existe sem a cultura se pensarmos em como nossos corpos foram evoluindo ao longo da história da humanidade. Edgar Morin diz algo importante sobre nossa condição humana: somos 100% biologia e cultura. Nossos corpos foram sendo construídos também a partir de nossas escolhas, nossos hábitos e costumes. Estamos falando de milhões de anos de nossa evolução e não apenas nos dias atuais.

Simone de Beauvoir diz que “Ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade; é o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado que qualificam de feminino.” Gênero é essa questão presente nas nossas escolhas de como podemos ser homens e mulheres para além de nosso sexo.

Iguais e ao mesmo tempo diferentes, entre o que é dado pela biologia e o que é construído no campo das relações sociais, assim somos e a confusão não ajuda em nada na construção de relações justas e respeitosas para com todas as pessoas.

Feminismo e machismo

Se o feminismo é a expressão da crença na igualdade e trata do enfrentamento travado para a construção dessa igualdade, o inimigo da mulher, portanto, não é o homem, mas o machismo. Ele anda pelas cabeças de homens e mulheres prejudicando aos dois, prejudicando a todos e o todo, a sociedade, as possibilidades de desenvolvimento que possam beneficiar a todas as pessoas num mundo sustentável.

Está afirmação acima é perigosa porque pode esconder a verdadeira tragédia que significa ser mulher numa sociedade machista, violenta, que produz desigualdades injustas, humilhações e desvantagens das mais variadas. Pode esconder o poder que os homens possuem, que dele gozam com privilégios imensos e muito bem saboreados por muitos desses homens. Muitos não querem abrir mão do poder e dos privilégios que há no fato de ser homem num mundo machista.

A afirmação de que o machismo é o inimigo a ser enfrentado não pode esconder nada e deve escancarar a tragédia, denunciar os privilégios, questionar e abalar o poder exercido sem qualquer legitimidade. Quando o machismo é o inimigo, ganha-se maior efetividade, contudo, neste enfrentamento porque a afirmação permite enxergar melhor o problema e engajar todos os seus envolvidos, incluindo os homens.

E os homens?

Diz um texto feminista que li há muitos anos que o carcereiro é também um prisioneiro. Os efeitos do machismo sobre a vida dos homens são imensos também, com prejuízos dos mais variados. Disse Emma Watson, embaixadora global da Boa Vontade da ONU Mulheres, apontando um dos prejuízos mais básicos causados pelo machismo:

“Eu quero que os homens comecem essa luta para que suas filhas, irmãs e esposas possam se livrar do preconceito, mas também para que seus filhos tenham permissão para serem vulneráveis e humanos e, fazendo isso, sejam uma versão mais completa de si mesmos”.

A crença por traz é que homens e mulheres nasceram para ampliar juntos as possibilidades do gênero humano. Boutros Boutros-Ghali, então Secretário Geral da ONU (1992-1996), escreveu que “A humanidade possui duas asas. Uma é a mulher. A outra é o homem. Enquanto as asas não forem encaradas com a mesma dignidade que cada um merece, a humanidade não poderá voar. Necessitamos de uma nova humanidade.”


Que romântico, dirão alguns. Que triste, isto sim, é viver num mundo em que ainda é preciso ficar explicando porque é importante promover a igualdade entre homens e mulheres. Não há como promover igualdade sem envolvimento dos dois, homens e mulheres, no enfrentamento do machismo. O problema e a solução moram na qualidade das relações entre homens e mulheres. Nada mais importante que conseguir enxergar os problemas do machismo para os dois e engajar a todos nesta desconstrução necessária para ambos.